O Protocolo de Manchester é um sistema de triagem médica amplamente utilizado em unidades de emergência ao redor do mundo. Este método permite que profissionais de saúde classifiquem pacientes com base na urgência de suas condições clínicas, garantindo que aqueles com riscos mais elevados sejam atendidos com prioridade.
Por ser um prática muito utilizada na ala de urgência e emergência, é essencial que todo profissional de saúde conheça como funciona o protocolo e sua aplicabilidade no atendimento médico.
Neste artigo, você vai conhecer em detalhes o que é o Protocolo de Manchester, seu funcionamento, a importância de cada cor utilizada na classificação e como implementá-lo eficazmente.
O que é o Protocolo de Manchester?
O Protocolo de Manchester é uma metodologia de classificação de risco que visa ordenar os atendimentos em unidades de emergência de acordo com a gravidade do quadro clínico apresentado pelos pacientes.
Desenvolvido em 1994 pelo médico e professor Kevin Mackway Jones, o protocolo foi inicialmente adotado pelo Manchester Royal Infirmary, na cidade de Manchester, em 1997, daí a origem do nome.
A primeira instituição a adotar formalmente o protocolo foi o Manchester Royal Infirmary, em 1997. Desde então, o método se expandiu globalmente, sendo utilizado em mais de 25 países, incluindo Áustria, Alemanha, México, Noruega, Portugal e Espanha.
Esta ferramenta não serve para fornecer diagnósticos, mas para identificar situações que apresentam maiores riscos fatais, de perda de função ou de órgãos, permitindo uma resposta rápida e eficaz das equipes médicas,
Com o uso deste protocolo, as unidades de saúde conseguem organizar melhor os atendimentos, priorizando os casos mais urgentes e garantindo um fluxo eficiente de pacientes.
Para que serve o protocolo de Manchester?
A principal finalidade do Protocolo de Manchester é priorizar os atendimentos de acordo com a necessidade dos pacientes. Ao classificar os pacientes com base na gravidade de seus sintomas, o protocolo permite que aqueles em situações mais críticas sejam atendidos primeiro, reduzindo o risco de complicações e mortes.
Além de salvar vidas, o protocolo contribui para a organização dos serviços de emergência, principalmente em contextos de superlotação hospitalar, pois oferece uma maneira estruturada de gerenciar o fluxo de pacientes, garantindo que os recursos sejam direcionados para quem mais precisa.
Isso melhora a eficiência do atendimento e aumenta a satisfação dos pacientes e de seus acompanhantes, que têm uma visão mais clara sobre os tempos de espera e a urgência de cada caso.
Significado das cores
O Protocolo de Manchester utiliza um sistema de cores para indicar a prioridade de atendimento dos pacientes. Cada cor representa um nível de urgência, facilitando a rápida identificação dos casos mais graves.
Vamos explorar o significado de cada cor:
Emergencial (Cor Vermelha): Os casos classificados com a cor vermelha são emergenciais e indicam risco iminente de morte ou condições de extrema gravidade. Pacientes com esta classificação devem ser atendidos imediatamente. Exemplos de situações que recebem a cor vermelha incluem:
- Crises de convulsão
- Paradas cardiorrespiratórias
- Hemorragias sem controle
- Dor no peito com falta de ar
- Queimaduras em mais de 25% do corpo
- Tentativas de suicídio
Muito Urgente (Cor Laranja): A cor laranja também indica casos urgentes, mas em um nível ligeiramente inferior ao da cor vermelha. Pacientes classificados como muito urgentes devem ser atendidos em até 10 minutos. Exemplos incluem:
- Dores muito severas
- Cefaleia de rápida progressão
- Arritmia sem sinais de instabilidade
Urgente (Cor Amarela): Casos urgentes são identificados com a cor amarela e indicam riscos para o paciente, embora não sejam imediatos. O tempo de espera aceitável é de até 1 hora.
Exemplos de casos urgentes incluem:
- Vômitos intensos
- Desmaios
- Crises de pânico
- Dores ou hemorragias moderadas
- Irregularidades nos sinais vitais
- Casos de hipertensão
Pouco Urgente (Cor Verde): Os casos menos graves recebem a cor verde, com um tempo de espera de até 2 horas. São situações em que os pacientes apresentam sintomas menos intensos, como:
- Febre
- Dores leves
- Virose
- Tontura
- Resfriado
- Náusea
- Hemorragia sob controle
Não Urgente (Cor Azul): A cor azul é destinada aos casos não urgentes, que podem esperar até 4 horas para atendimento. Estes geralmente envolvem procedimentos rotineiros, como:
- Administração de medicamentos receitados pelo médico
- Troca de sonda
- Dores relacionadas a condições crônicas já diagnosticadas
Como funciona o protocolo de Manchester na prática?
O Protocolo de Manchester funciona com base em algoritmos de classificação de risco que guiam os profissionais de saúde na triagem dos pacientes.
Ao chegar em uma unidade de emergência, cada paciente passa por uma triagem conduzida por um enfermeiro treinado.
Este profissional avalia os sinais vitais e sintomas do paciente, utilizando ferramentas específicas para determinar a gravidade do quadro.
Por exemplo, a dor é um dos critérios avaliados, sendo classificada em uma escala de 0 a 10. A classificação resultante influencia a cor da pulseira ou etiqueta que o paciente recebe, indicando o tempo máximo de espera aceitável.
Equipamentos necessários
Para implementar o Protocolo de Manchester, é essencial ter à disposição certos equipamentos e materiais. Estes incluem:
Etiquetas de identificação: Utilizadas para marcar a classificação de cada paciente.
Esfigmomanômetro: Para medir a pressão arterial.
Estetoscópio: Para auscultar sons cardíacos e pulmonares.
Glicosímetro: Para medir os níveis de glicose no sangue.
Oxímetro: Para avaliar a saturação de oxigênio no sangue.
Prontuário médico: Para registrar e acompanhar o histórico clínico do paciente.
Relógio de frequência cardíaca: Para monitorar os batimentos cardíacos.
Termômetro: Para medir a temperatura corporal.
Quem são os responsáveis pela execução do Protocolo?
A execução do Protocolo de Manchester é responsabilidade da equipe de enfermagem, especificamente dos profissionais que passaram por treinamento específico na metodologia de triagem. Este treinamento é essencial para garantir que os enfermeiros possuam as habilidades necessárias para avaliar com precisão a gravidade dos sintomas dos pacientes.
Além do enfermeiro responsável pela triagem, é fundamental que toda a equipe médica, incluindo médicos e demais profissionais de saúde, esteja engajada e bem informada sobre o funcionamento do protocolo.
Por isso, a colaboração entre diferentes profissionais assegura que os processos de triagem e atendimento sejam realizados de maneira eficaz e em conformidade com os padrões estabelecidos.
Vantagens do Protocolo de Manchester
A implementação do Protocolo de Manchester oferece várias vantagens significativas para as unidades de saúde e para os pacientes:
Mais Segurança para os Pacientes
O Protocolo de Manchester é baseado em critérios sólidos e cientificamente respaldados, garantindo que os pacientes sejam classificados de maneira objetiva e precisa. Isso aumenta a segurança do atendimento, pois os casos mais graves são identificados rapidamente e tratados com prioridade, reduzindo o risco de complicações e mortes.
Maior satisfação dos pacientes
Com o uso do Protocolo, os pacientes e seus acompanhantes têm uma compreensão clara dos tempos de espera e da urgência de cada caso. Isso alinha as expectativas e aumenta a satisfação com os serviços prestados, pois os pacientes percebem que estão sendo atendidos de acordo com a gravidade de seus sintomas.
Melhoria na organização da unidade de saúde
A padronização dos fluxos de atendimento facilita a organização das intervenções de urgência.Assim, com critérios claros para a classificação dos pacientes, os recursos podem ser alocados de maneira mais eficiente, direcionando profissionais, equipamentos e insumos médicos para os casos que mais necessitam.
Redução de Fatalidades
Atendendo prontamente os pacientes em situações de risco iminente, é possível salvar vidas e minimizar sequelas graves, como a perda de órgãos ou funções vitais.
Segurança da unidade de atendimento
Auditorias constantes e rigorosas são necessárias para garantir que o protocolo esteja sendo aplicado corretamente e que os resultados sejam eficazes. A conformidade com esses padrões de auditoria proporciona uma garantia adicional de qualidade e segurança no atendimento.
Como implementar o Protocolo de Manchester?
Para implementar o Protocolo de Manchester com sucesso, é essencial seguir um conjunto de etapas que envolvem a conscientização, capacitação e auditoria contínua.
Vamos detalhar essas etapas:
1 – Conscientização da equipe
O primeiro passo é conscientizar toda a equipe médica sobre a importância da gestão de urgências e da classificação de riscos. É fundamental que não apenas os enfermeiros e médicos, mas também a direção e coordenação da unidade de emergência, entendam a relevância da ferramenta.
2 – Capacitação dos profissionais
Os enfermeiros responsáveis pela triagem devem passar por um curso específico, oferecido por instituições reconhecidas como o Grupo Brasileiro de Classificação de Risco (GBCR). Este curso, que pode ser realizado presencialmente ou à distância, fornece o conhecimento necessário para a correta aplicação do protocolo.
3. Capacitação de Auditores Internos
Para manter a conformidade e a excelência do Protocolo de Manchester, é essencial realizar auditorias internas regulares.
A capacitação de auditores internos, incluindo pelo menos um médico e um enfermeiro, garante que a unidade de saúde possa monitorar continuamente a aplicação do protocolo e implementar melhorias conforme necessário.
4 – Auditorias externas
Além das auditorias internas, a realização de auditorias externas periódicas é fundamental para verificar a eficácia do Protocolo de Manchester na unidade de saúde. Essas auditorias proporcionam uma visão imparcial e ajudam a identificar áreas que podem ser aprimoradas, garantindo a continuidade da conformidade com os padrões do protocolo.
Conclusão
O Protocolo de Manchester é uma ferramenta essencial para a gestão eficiente das emergências médicas, permitindo que unidades de saúde priorizem atendimentos com base na gravidade dos sintomas dos pacientes.
Com uma aplicação correta e sistemática, o protocolo não só salva vidas, mas também melhora a organização dos serviços de emergência, aumenta a satisfação dos pacientes e assegura a qualidade do atendimento.