Uma pesquisa inédita do Datafolha revelou um consenso quase absoluto entre os brasileiros: 96% da população acredita que médicos recém-formados devem ser submetidos a um exame de proficiência antes de receber o registro profissional (CRM) e começar a atender pacientes. O levantamento foi realizado em junho em todas as regiões do país e indica apoio massivo à criação da prova. Apenas 3% dos entrevistados foram contra a medida, enquanto 1% não soube responder.
O estudo mostra que o apoio ao exame de proficiência é majoritário em todos os segmentos da população e em todas as regiões. Goiás é o estado onde a ideia encontra maior aprovação (98%), enquanto o Acre apresenta o menor índice (92%) – ainda assim, amplamente favorável.

Quem deve fazer a prova
Segundo o Datafolha, 98% dos entrevistados acreditam que todos os recém-formados em medicina, independentemente da escola em que concluíram o curso, devem passar por um exame de proficiência. Apenas 2% disseram que o exame deveria ser aplicado apenas a médicos formados no exterior.
O levantamento também revelou que a população associa a medida a maior segurança nos atendimentos médicos. Para 92% dos brasileiros, a realização da prova aumentaria a confiança no trabalho dos profissionais de saúde. Apenas 4% afirmaram que o exame diminuiria a confiança, enquanto 3% consideraram que não faria diferença e 1% não opinou.
Quando questionados sobre o impacto da medida para o sistema de saúde, 94% dos entrevistados disseram que os efeitos seriam positivos tanto para a rede pública quanto para a privada. Apenas 4% acreditam que haveria impacto negativo.
Expansão das escolas médicas
O debate acontece em um momento de forte expansão no número de cursos de medicina no Brasil. Atualmente, o país possui 448 escolas médicas, o dobro do que existia há dez anos. Há ainda cerca de 300 pedidos de abertura de novos cursos em análise no Ministério da Educação, o que poderia elevar ainda mais o número de vagas – já são mais de 44 mil em todo o território nacional.
A comparação com outros países chama atenção: os Estados Unidos, com população 70% maior que a brasileira, contam com 211 faculdades de medicina; e a Índia, com quase sete vezes mais habitantes, tem 605 escolas médicas.

Discussão no Congresso Nacional
O tema do exame de proficiência também avança no Legislativo. No Senado, o Projeto de Lei 2.294/2024, de autoria do senador Astronauta Marcos Pontes (PL-SP), já foi aprovado na Comissão de Educação e Cultura e agora tramita na Comissão de Assuntos Sociais (CAS). O relator, senador Dr. Hiran (PP-RR), apresentou parecer favorável e convocou uma audiência pública para o dia 27 de agosto, quando a proposta será debatida com especialistas e representantes da sociedade.
Na Câmara dos Deputados, tramita em paralelo o Projeto de Lei 785/2024, apresentado pelos deputados Dr. Luizinho (PP-RJ) e Allan Garcês (PP-MA). O texto recebeu regime de urgência em julho de 2025, o que permite votação direta em plenário sem a necessidade de passar pelas comissões temáticas.
Tanto na proposta do Senado quanto na da Câmara, o Conselho Federal de Medicina (CFM) será o responsável por regulamentar e coordenar o exame de proficiência , enquanto os Conselhos Regionais de Medicina (CRMs) terão a atribuição de aplicá-lo em suas jurisdições.
Apoio da classe médica
O presidente do CFM, José Hiran Gallo, afirmou que os resultados da pesquisa confirmam a percepção da própria categoria. Segundo ele, 90% dos médicos também apoiam a criação de um exame nacional de proficiência.
“O Datafolha nos mostra que a opinião dos brasileiros em todos os cantos do País vai ao encontro da avaliação da maioria esmagadora dos próprios médicos. A aprovação da medida no Congresso é fundamental para elevar o padrão educacional, pois obriga as escolas médicas a se adequarem às exigências do exame. Isso garante que os recém-formados tenham nível adequado de competência para exercer a profissão, assegurando um padrão mínimo de qualidade no atendimento à saúde”, declarou.
Metodologia da pesquisa
O levantamento realizado pelo Datafolha a pedido do CFM entrevistou 10.524 pessoas em 254 municípios brasileiros, incluindo capitais, regiões metropolitanas e cidades do interior de diferentes portes. A margem de erro máxima é de 1 ponto percentual, para mais ou para menos, considerando nível de confiança de 95%.
Tendência de mudança
Com apoio quase unânime da população e grande adesão da classe médica, a expectativa é de que o tema avance no Congresso nos próximos meses. A realização do exame de proficiência em medicina é vista por especialistas como um passo essencial para aumentar a qualidade da formação médica, reduzir desigualdades entre escolas e assegurar maior segurança aos pacientes.
A discussão acontece em meio ao aumento expressivo do número de faculdades de medicina no país e diante da pressão por melhorias no atendimento do sistema de saúde. O resultado do Datafolha indica que, ao menos na visão da sociedade, a criação do exame de proficiência é um caminho inevitável.
Fonte: CFM