Um estudo internacional conduzido por pesquisadores das universidades de Oxford e Cambridge aponta que o consumo de álcool, mesmo em pequenas quantidades, pode elevar o risco de desenvolver demência ao longo da vida. Publicada na revista BMJ Evidence-Based Medicine, a pesquisa combina dados observacionais e análises genéticas para avaliar os efeitos reais da bebida no cérebro.
Durante anos, alguns estudos sugeriram que o consumo moderado de álcool poderia ter efeito protetor sobre a saúde cerebral. No entanto, os cientistas identificaram um fenômeno chamado “causalidade reversa”, que pode ter influenciado essas conclusões. Pessoas que começam a apresentar sinais iniciais de demência tendem a reduzir naturalmente a ingestão de álcool, o que pode gerar a impressão de que quem bebe pouco está mais protegido, quando na verdade essas pessoas já apresentam alterações na saúde cerebral.

O estudo analisou dados de aproximadamente 560 mil participantes de biobancos nos Estados Unidos e no Reino Unido, acompanhados por até 12 anos. Durante esse período, 14,5 mil pessoas desenvolveram algum tipo de demência. Além disso, os pesquisadores utilizaram dados genéticos de 2,4 milhões de indivíduos para verificar a relação entre predisposição ao consumo de álcool e risco da doença.
As análises genéticas mostraram que qualquer incremento no consumo de álcool aumenta o risco de demência. Por exemplo, pessoas que consomem entre uma e três doses semanais apresentaram risco 15% maior em comparação às que bebem menos. Já indivíduos com diagnóstico de dependência alcoólica tiveram 16% mais chances de desenvolver a doença.
O estudo também revelou que o risco cresce conforme a quantidade ingerida, sendo que quem consome mais de 40 doses por semana apresenta um aumento de 41% no risco, enquanto dependentes de álcool têm risco 51% maior do que bebedores leves. Entre os fatores observados, a redução do consumo antes do diagnóstico reforça a importância de considerar variáveis como a causalidade reversa em estudos sobre álcool e demência.
Apesar das conclusões contundentes, os pesquisadores ressaltam que o estudo não prova de forma definitiva que o álcool causa demência. No entanto, a toxicidade do álcool para os neurônios já é conhecida, e os resultados reforçam a necessidade de prevenção e redução do consumo, especialmente em pessoas com histórico familiar ou fatores de risco para doenças neurodegenerativas.
Entre os pontos fortes da pesquisa estão o grande número de participantes, a diversidade do perfil dos indivíduos analisados e o uso de técnicas genéticas para reduzir vieses estatísticos. Entre as limitações, os autores destacam que os resultados mais robustos surgiram em pessoas de ancestralidade europeia, o que pode limitar a generalização para outros grupos populacionais.

Os autores afirmam que, ao contrário do que se acreditava anteriormente, não existe nível seguro de consumo de álcool para o cérebro. A mensagem central é clara: reduzir ou evitar a ingestão de bebidas alcoólicas é uma estratégia relevante para a prevenção da demência ao longo da vida.
Redução do consumo de álcool
De acordo com os pesquisadores, políticas de saúde pública que incentivem a redução do consumo e a conscientização sobre os riscos do álcool podem ajudar a diminuir a incidência de demência na população. A estimativa é que, se a prevalência de dependência alcoólica fosse reduzida pela metade, o número de casos da doença poderia cair até 16%.
Este estudo reforça que decisões individuais sobre o consumo de álcool devem considerar não apenas os efeitos imediatos, mas também os impactos de longo prazo sobre a saúde cerebral, incentivando escolhas mais conscientes e preventivas.
Fonte: G1