O Brasil se firmou como o epicentro da inovação em saúde na América Latina, concentrando 64,8% de todas as startups de tecnologia voltadas para o setor, as chamadas healthtechs. O dado, revelado no mais recente Anuário da Associação Brasileira de Startups de Saúde e Healthtechs (ABSS), coloca o país em uma posição de liderança absoluta, muito à frente de mercados como o México, com 16,2%, e a Argentina, com apenas 5%. Este domínio não é um acaso, mas o resultado de um ecossistema fértil, impulsionado pela imensa demanda do Sistema Único de Saúde (SUS), pela busca incessante do setor privado por eficiência e por um ambiente regulatório cada vez mais favorável à inovação.
O ecossistema das healthtechs no Brasil
Em um cenário onde os desafios são tão grandes quanto as oportunidades, a tecnologia surge como a principal aliada. O país, que conta com uma rede de mais de 313 mil leitos públicos e 141 mil privados, enfrenta uma taxa de ocupação hospitalar que frequentemente flutua entre 77% e 80%, de acordo com o relatório BTG Healthcare Bible 2025. Somado a isso, os custos com internações já consomem 41,9% de todas as despesas dos planos de saúde, um indicador alarmante que evidencia a urgência por soluções que otimizem recursos e melhorem a gestão. É nesse contexto que as healthtechs brasileiras encontram um campo vasto para atuar.

O motor por trás dessa revolução tecnológica é, sem dúvida, a Inteligência Artificial (IA). As startups nacionais estão na vanguarda do desenvolvimento de soluções baseadas em deep learning, processamento de linguagem natural (NLP) e computação em nuvem (cloud computing). Essas ferramentas estão sendo aplicadas para personalizar o cuidado ao paciente, prever surtos de doenças, otimizar a gestão de leitos e apoiar a decisão clínica de médicos e enfermeiros, reduzindo a margem de erro e agilizando diagnósticos.
O modelo de negócios que prevalece nesse ecossistema é o Software as a Service (SaaS), adotado por 41,2% das healthtechs. Por meio de assinaturas, elas oferecem plataformas em nuvem que se integram aos sistemas de hospitais e clínicas, otimizando desde o agendamento de consultas até a gestão de prontuários eletrônicos. O foco principal ainda é o mercado B2B (business-to-business), com 39,3% das startups vendendo suas soluções diretamente para hospitais, laboratórios e operadoras de saúde.
No entanto, há um crescimento notável do mercado B2C (business-to-consumer), que já representa 35% do setor. Esse movimento leva a inovação diretamente para o bolso do cidadão, por meio de aplicativos de teleatendimento, plataformas de bem-estar e monitoramento de saúde, democratizando o acesso a serviços que antes eram restritos a grandes centros urbanos ou a quem podia pagar por consultas particulares.
A ABSS, que em 2024 ultrapassou a marca de 480 startups healthtechs associadas, tem desempenhado um papel fundamental como catalisadora desse crescimento. A associação funciona como um hub que conecta os diferentes elos da cadeia, promovendo eventos como Demodays para apresentação a investidores, organizando missões internacionais para troca de conhecimento e mediando debates cruciais sobre a regulamentação do setor, como a validação da prescrição eletrônica e a criação de ambientes de teste regulatórios (sandbox) pela Anvisa.
Diante da pressão crescente sobre o sistema de saúde, intensificada pelo envelhecimento populacional e pelo aumento das doenças crônicas, as healthtechs se apresentam não apenas como uma tendência de mercado, mas como uma resposta estratégica e concreta. Elas oferecem caminhos para ampliar o acesso, melhorar a qualidade do atendimento e, principalmente, garantir a sustentabilidade financeira de um setor que é pilar fundamental para o bem-estar da nação. A liderança brasileira na América Latina é um sinal claro de que o futuro da saúde já começou, e ele é digital.
Fonte: Medicina S/A