
A Organização Mundial da Saúde (OMS) divulgou novas estimativas que revelam um cenário preocupante para o futuro da saúde global: o número de novos casos de câncer deverá saltar dos 20 milhões registrados em 2022 para 35,3 milhões em 2050, um aumento de 77%. A projeção acende um alerta sobre a crescente pressão que os sistemas de saúde enfrentarão nas próximas décadas, especialmente em países de baixa e média renda, mais vulneráveis e menos preparados para absorver a demanda.
Os dados foram apresentados durante o seminário Controle do Câncer no Século XXI: Desafios Globais e Soluções Locais, realizado pela Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz), no Rio de Janeiro, em referência ao Dia Nacional de Combate ao Câncer. As informações reunidas pela Agência Internacional para Pesquisa de Câncer, vinculada à OMS, reforçam a magnitude da doença, que já é responsável por 10 milhões de mortes anuais em todo o mundo.
Desigualdade marca incidência e mortalidade
O avanço dos casos de câncer afeta países de todas as regiões, mas os impactos não se distribuem de forma homogênea. As estimativas mostram diferenças expressivas entre continentes e faixas socioeconômicas. A Ásia, que concentra 60% da população mundial, responde por aproximadamente metade dos casos globais e mais da metade das mortes. Isso indica falhas estruturais nos sistemas de prevenção, diagnóstico precoce e acesso ao tratamento.
A desigualdade também se reflete na perda econômica. A OMS estima que a morte prematura por câncer, entre pessoas de 15 a 64 anos, gera um prejuízo de US$ 566 bilhões por ano, equivalente a 0,6% do PIB global. Embora regiões como América do Norte e Europa Ocidental registrem parte significativa desse impacto pela alta incidência, a proporção da perda é mais grave em países com menor renda, especialmente na África Oriental e Central, onde a estrutura de saúde é mais fragilizada.

Tipos de câncer mais incidentes
Entre os tipos de casos de câncer diagnosticados, o câncer de pulmão aparece em primeiro lugar, com 2,5 milhões de novos casos anuais, o equivalente a um em cada oito diagnósticos no mundo. A doença também lidera as estatísticas globais de mortalidade. Na sequência, aparecem o câncer de mama e o colorretal, reforçando a necessidade de políticas públicas que integrem prevenção, acesso a exames e campanhas de conscientização contínuas.
Brasil terá aumento expressivo nas próximas décadas
O impacto da doença no Brasil segue a tendência mundial. O Instituto Nacional do Câncer (Inca) estima que o país registre cerca de 700 mil novos casos de câncer por ano até 2025. Mas as projeções da OMS apontam um salto ainda maior: o número poderá alcançar 1,150 milhão de novos diagnósticos em 2050, um crescimento de 83% em relação a 2022. As mortes também devem aumentar significativamente, aproximando-se de 554 mil até 2025, quase o dobro do registrado em anos anteriores.
O crescimento acelerado dos casos de câncer representa um desafio substancial para o sistema de saúde brasileiro. Com a população envelhecendo e a incidência de doenças crônicas em ascensão, especialistas defendem planejamento estratégico imediato, envolvendo ampliação de infraestrutura, investimento em tecnologias de diagnóstico e políticas mais eficientes de prevenção.
A necessidade de ação antecipada
A OMS ressalta que a tendência de aumento dos casos de câncer não pode ser vista como um fenômeno inevitável, mas como um sinal de que intervenções urgentes são necessárias. A combinação de fatores como envelhecimento populacional, sedentarismo, tabagismo, poluição atmosférica e dieta inadequada contribui para a escalada da doença. A entidade reforça que medidas de prevenção, acesso equitativo a tratamentos e investimentos em tecnologias inovadoras podem reduzir significativamente a mortalidade.
O debate sobre o enfrentamento da doença também envolve questões de política social. Modelos de saúde baseados apenas no combate ao câncer já não atendem às necessidades atuais. A proposta de especialistas é migrar para um modelo de controle contínuo, focado na manutenção de qualidade de vida e no acompanhamento permanente dos pacientes. A vulnerabilidade de grupos específicos — marcada por desigualdade racial, territorial, econômica e de gênero — exige ainda políticas públicas com recorte inclusivo.
O papel das instituições brasileiras
A Fiocruz, uma das principais instituições científicas do país, organizou o seminário com o objetivo de mobilizar pesquisadores, gestores e formuladores de políticas públicas. A iniciativa integra um projeto maior, que estuda o futuro do diagnóstico e tratamento do câncer, considerando o impacto das transformações tecnológicas e o fortalecimento dos sistemas de saúde.
O Inca também reforça que o câncer tende a tornar-se a principal causa de mortalidade no Brasil nos próximos anos, o que exige um esforço coordenado entre governo, sociedade civil e iniciativa privada.
As novas projeções sobre os casos de cÂncer mostram que o desafio é global, mas suas soluções devem ser construídas localmente, considerando desigualdades e capacidades regionais. Se ações consistentes forem adotadas agora, especialistas acreditam ser possível mitigar as consequências mais severas do crescimento acelerado da doença e estruturar sistemas de saúde mais preparados para o futuro.
Fonte: Agência Brasil









