
No marco do Dia Mundial do Doador de Sangue, comemorado em 14 de junho, a Organização Pan-Americana da Saúde (OPAS) divulgou dados que revelam avanços significativos na doação de sangue nas Américas, mas que também apontam a necessidade urgente de fortalecer os sistemas de doação para garantir acesso equitativo e sustentável.
De acordo com o relatório preliminar “Acceso a sangre para transfusión en países de América Latina y el Caribe 2023”, 23 países da região — 17 na América Latina e seis no Caribe não latino — coletaram mais de 9,2 milhões de unidades de sangue em 2023. O número representa um aumento de 15,5% em relação a 2020, quando haviam sido registradas 7,7 milhões de unidades. O crescimento é atribuído à retomada das atividades pós-pandemia e a novas estratégias de conscientização, como campanhas digitais, unidades móveis de coleta e parcerias com instituições públicas e privadas.
Apesar do progresso, o relatório destaca que ainda há um longo caminho a ser percorrido até atingir a meta de 100% de doação de sangue voluntária, regular e não remunerada. Em 2023, 56,8% das unidades coletadas tiveram origem em doadores voluntários — um avanço de 6,7% em relação a 2019, mas ainda abaixo do ideal.

“O acesso equitativo ao sangue seguro é um direito de todas as pessoas e só pode ser garantido por meio de sistemas de doação organizados e baseados na solidariedade”, afirmou Jarbas Barbosa, diretor da OPAS. “Agradecemos profundamente aos que doam sangue de forma generosa e voluntária, e incentivamos mais pessoas a se unirem a esse gesto que salva vidas.”
Desafios na doação de sangue
Segundo o relatório, a região apresenta uma média de 16 doações por mil habitantes, mas os números variam amplamente entre os países. Enquanto dez superam essa média, outros 13 estão abaixo do índice. Brasil, México, Colômbia e Argentina respondem por 75% do total de doações, revelando uma concentração preocupante da capacidade de coleta.
Mauricio Beltrán, assessor regional da OPAS para o tema sangue, destacou a importância de aumentar a base de doadores regulares e altruístas. “As doações voluntárias e constantes são as mais eficazes para evitar a escassez e garantir o fornecimento sustentável. As doações de familiares ou amigos, embora importantes, costumam ser reativas e pontuais.”
O documento também aponta avanços em segurança e qualidade. Em 2023, 100% das unidades coletadas foram rastreadas e 90% passaram por fracionamento — processo que separa os componentes do sangue, como glóbulos vermelhos, plasma e plaquetas, para otimizar seu uso clínico. Isso representa um passo importante para o uso racional e eficiente do sangue em tratamentos como cirurgias complexas, atendimento de vítimas de desastres, controle de hemorragias no parto e tratamento de anemias severas.
Por outro lado, a governança dos sistemas nacionais de sangue ainda apresenta fragilidades. Mais de 1,9 mil centros de coleta e 1,4 mil centros de processamento operam de forma descentralizada e, em muitos casos, com baixa capacidade produtiva. Apenas quatro países da região processaram, em média, mais de 10 mil unidades por ano — sendo o Paraguai o destaque, com 20,7 mil unidades processadas.
A OPAS faz um apelo para que os governos priorizem investimentos em infraestrutura, gestão e vigilância dos sistemas de sangue. “Fortalecer a capacidade nacional é essencial para garantir acesso igualitário e salvar vidas”, reforçou Barbosa.
Neste ano, a campanha do Dia Mundial do Doador de Sangue traz o tema “Doe sangue, doe esperança: juntos salvamos vidas”, com o objetivo de mobilizar novos doadores, agradecer aos já existentes e reforçar a importância da solidariedade na saúde pública.
Fonte: OPAS