
As hepatites virais continuam a representar uma ameaça significativa à saúde pública no Brasil. Somente em 2024, o país registrou mais de 34 mil casos da doença e cerca de 1.100 mortes diretas. Essas infecções, causadas por diferentes tipos de vírus — classificados como A, B, C, D e E —, atacam o fígado e podem provocar sérios danos ao longo do tempo, especialmente nos casos crônicos.
No Brasil, os tipos B e C continuam sendo os mais prevalentes. Eles são, em sua maioria, infecções silenciosas: o vírus permanece ativo por anos, sem manifestar sintomas evidentes. Quando os sinais clínicos surgem, o quadro já pode ter evoluído para complicações graves como cirrose, fibrose hepática ou até mesmo câncer no fígado. Esse padrão silencioso torna o diagnóstico precoce e a prevenção ainda mais importantes.
Um problema global com metas estabelecidas
O cenário brasileiro acompanha uma preocupação mundial. A Organização Mundial da Saúde (OMS) estabeleceu como meta global reduzir em 90% a incidência de hepatites B e C e diminuir em 65% as mortes causadas por essas infecções até o ano de 2030. Como forma de conscientizar a população e mobilizar ações de combate, o dia 28 de julho foi instituído como o Dia Mundial de Luta Contra as Hepatites Virais.
No entanto, apesar dos esforços, os números ainda são alarmantes. Somente a hepatite C, que não tem vacina, foi responsável por mais da metade dos novos diagnósticos registrados em 2024 no Brasil, com 19.343 casos e 752 óbitos diretos.
Formas de contágio e prevenção
As hepatites virais podem ser transmitidas de diferentes formas, a depender do tipo viral. Os tipos A e E são geralmente adquiridos por meio da ingestão de água ou alimentos contaminados — são, portanto, doenças de transmissão fecal-oral. Já as hepatites B, C e D são transmitidas principalmente por contato com sangue contaminado, seja por meio de objetos pessoais como lâminas, alicates e escovas de dente, ou por relações sexuais desprotegidas.
Diante dessas vias de contágio, a prevenção desempenha papel crucial. Além da adoção de hábitos de higiene e do uso de preservativos, a vacinação tem se mostrado uma das ferramentas mais eficazes no controle da doença. O Sistema Único de Saúde (SUS) oferece gratuitamente vacinas contra os tipos A e B. A imunização contra a hepatite B também protege contra o tipo D, que depende da presença do vírus B para se manifestar.

Avanços da vacinação e impacto nos números
A introdução das vacinas no calendário básico de vacinação das crianças gerou impactos diretos e mensuráveis nos indicadores de saúde relacionados a hepatites virais . A taxa de detecção da hepatite B caiu de 8,3 casos por 100 mil habitantes, em 2013, para 5,3 em 2024. O progresso é reflexo de décadas de campanhas de vacinação, que começaram nos anos 1990 e seguem ativas até hoje.
A vacina contra a hepatite A também apresentou resultados expressivos. Antes da inclusão no calendário infantil, em 2014, mais de 900 crianças com menos de cinco anos eram infectadas anualmente. Em 2024, esse número caiu para apenas 16 — uma redução superior a 98%.
Desafios nas faixas etárias adultas
Apesar da redução nos casos infantis, a faixa etária entre 20 e 39 anos tem registrado aumento no número de infecções, especialmente entre os homens. Em resposta, o Ministério da Saúde ampliou a vacinação contra hepatite A para grupos de maior vulnerabilidade, como usuários da profilaxia pré-exposição (PrEP), após surtos detectados entre homens que fazem sexo com homens.
A estratégia visa interromper cadeias de transmissão e conter novos focos das hepatites virais . No entanto, a adesão à vacinação ainda é um desafio entre os adultos, o que exige campanhas de conscientização mais agressivas e abrangentes.
Hepatite C: sem vacina, mas com tratamento eficaz
Diferentemente dos tipos A e B, a hepatite C ainda não conta com vacina. Porém, há avanços significativos no tratamento: os antivirais disponíveis atualmente apresentam taxa de cura superior a 95%. O diagnóstico, por meio de exames laboratoriais simples, é essencial para que o tratamento tenha sucesso.
O grande obstáculo, no entanto, é o diagnóstico tardio das hepatites virais . Como a infecção costuma ser assintomática durante anos, muitos pacientes só descobrem a doença quando já apresentam complicações graves, como cirrose hepática ou câncer de fígado — mesmo entre pessoas que não consomem bebidas alcoólicas regularmente.
Caminho para erradicação depende da prevenção
A erradicação das hepatites virais no Brasil é possível, mas exige esforços contínuos em vacinação, diagnóstico precoce e ampliação do acesso ao tratamento. A vigilância epidemiológica e a educação em saúde seguem como pilares fundamentais para conter a disseminação dos vírus e proteger as gerações futuras.
Neste 28 de julho, a data serve como lembrete da importância de políticas públicas integradas, do compromisso da população com a prevenção e do papel decisivo que a ciência e a medicina continuam a desempenhar na luta contra essas infecções silenciosas e potencialmente fatais.
Fonte: Agência Brasil