Pesquisadores do Instituto de Tecnologia de Massachusetts (MIT) anunciaram um avanço científico que pode mudar o rumo da luta contra infecções resistentes a antibióticos. Usando inteligência artificial (IA) generativa, a equipe conseguiu criar dois medicamentos inovadores, capazes de eliminar superbactérias como a gonorreia e o Staphylococcus aureus resistente à meticilina (MRSA).
O estudo, publicado na revista Cell, sugere que a descoberta pode representar o início de uma “segunda era de ouro” na pesquisa de antibióticos, em um cenário global cada vez mais desafiador devido ao aumento da resistência bacteriana.

Como a IA ajudou na descoberta
Para chegar ao resultado, os cientistas treinaram algoritmos de IA generativa para analisar nada menos que 36 milhões de compostos químicos. O objetivo era identificar estruturas moleculares com potencial de combater bactérias resistentes.
A tecnologia recebeu informações sobre compostos já conhecidos e sua eficácia contra diferentes espécies de bactérias. A partir daí, o sistema aprendeu a prever como novas combinações poderiam atuar. Importante destacar que qualquer substância parecida com antibióticos já existentes ou com risco de toxicidade para humanos foi descartada ao longo do processo.
Segundo os pesquisadores, a IA precisou ser ajustada para garantir que estava criando medicamentos de fato — e não substâncias sem utilidade farmacológica.
Duas estratégias para inovar
O estudo testou duas abordagens principais. A primeira consistiu em buscar milhões de fragmentos químicos e combiná-los de diferentes formas. Já a segunda permitiu que a IA controlasse todo o processo, desde a seleção até a criação final dos compostos.
Ambas as estratégias levaram a moléculas inéditas. Os antibióticos resultantes foram testados em laboratório e em modelos animais, demonstrando eficácia contra a gonorreia resistente a múltiplos medicamentos e contra o MRSA, que pode causar infecções graves e até fatais.

Impacto em números
A descoberta chega em um momento crítico. Só em 2024, cerca de 71.802 pessoas foram diagnosticadas com gonorreia, de acordo com dados oficiais. Em paralelo, a Inglaterra registrou 910 casos de MRSA entre 2023 e 2024, um aumento de 15,6% em relação ao período anterior.
Esses números refletem um problema crescente: o uso indiscriminado de antibióticos ao longo das últimas décadas acelerou a adaptação das bactérias, tornando algumas delas praticamente invencíveis com os tratamentos atuais.
Próximos passos
Apesar dos resultados animadores, os pesquisadores alertam que os novos antibióticos ainda não estão prontos para uso clínico. Serão necessários ensaios clínicos rigorosos, que podem levar de um a dois anos, para garantir a segurança e a eficácia dos medicamentos em seres humanos.
Ainda assim, o potencial é considerado enorme. “Estamos diante de um marco que pode transformar a forma como combatemos as superbactérias. A inteligência artificial mostrou que é possível acelerar processos que levariam décadas em poucos meses de análise computacional”, destacou um dos autores do estudo.
Uma guerra em andamento
A resistência bacteriana é hoje um dos maiores desafios da medicina. Estima-se que pelo menos um milhão de mortes anuais estejam relacionadas a infecções resistentes a antibióticos desde 1990, segundo dados da Universidade de Oxford.
Antibióticos sempre foram pilares da saúde pública, usados para tratar desde infecções simples até para prevenir complicações em cirurgias. Porém, a eficácia desses medicamentos tem diminuído diante da evolução das bactérias.
Nesse contexto, o uso da inteligência artificial aparece como uma ferramenta estratégica para renovar o arsenal da medicina. O avanço registrado pelo MIT pode não apenas abrir caminho para novos tratamentos, mas também redefinir a forma como a ciência descobre medicamentos.
Esperança renovada
Embora ainda haja etapas críticas antes da disponibilização dos novos antibióticos, especialistas acreditam que a descoberta é um sinal de esperança na luta contra infecções que desafiam a medicina moderna.
Se confirmados os resultados em humanos, o impacto poderá ser comparável às maiores revoluções da história da saúde pública, oferecendo novas chances de tratamento a pacientes que hoje enfrentam bactérias praticamente intratáveis.
Fonte: Época









