Um estudo apresentado no Congresso da Sociedade Europeia de Cardiologia de 2025, realizado em Madri, Espanha, trouxe novas evidências sobre a relação entre vacinação e prevenção de doenças cardiovasculares. Pesquisadores apontam que a imunização contra o herpes-zóster pode contribuir para a redução do risco de eventos graves, como acidente vascular cerebral (AVC) e infarto, em diferentes faixas etárias.
De acordo com a revisão sistemática e meta-análise intitulada Eficácia da vacina contra herpes-zóster em eventos cardiovasculares, pessoas vacinadas entre 18 e 50 anos apresentaram redução de 18% no risco de doenças cardiovasculares, enquanto indivíduos acima de 50 anos tiveram queda de 16%. Os dados foram reunidos a partir da análise de 19 estudos internacionais, que somaram informações de populações de diferentes perfis e contextos de saúde.

Impacto dos resultados
O levantamento incluiu pesquisas com ampla representatividade: nove dos estudos tiveram mais de 50% de participantes homens, enquanto sete relataram idades médias que variaram de 53 a 74 anos. Os resultados apontaram que, para cada mil pessoas vacinadas, houve de 1,2 a 2,2 eventos cardiovasculares a menos por ano, em comparação com os grupos não imunizados.
A hipótese científica sugere que a vacinação contra o vírus Varicela-Zóster, responsável pelo herpes-zóster, pode reduzir inflamações que favorecem o surgimento de problemas cardíacos e circulatórios. Isso porque o vírus, quando reativado no organismo, pode afetar vasos sanguíneos, desencadeando complicações como o AVC.
A análise ganha relevância diante do posicionamento da Sociedade Europeia de Cardiologia, que passou a considerar as vacinas como um quarto pilar na prevenção de doenças cardiovasculares, ao lado do controle da pressão arterial, da redução do colesterol e do tratamento do diabetes.
A importância da imunização
O herpes-zóster, também conhecido como cobreiro, é uma doença viral que atinge cerca de uma a cada três pessoas ao longo da vida. O quadro clínico se caracteriza por dor intensa, formigamento, coceira e lesões cutâneas, geralmente em regiões torácicas e cervicais. Entre as complicações mais frequentes estão a neuralgia pós-herpética, que pode provocar dores crônicas, e o herpes oftálmico, capaz de comprometer a visão.
O risco aumenta com a idade e em pessoas com sistema imunológico fragilizado, como portadores de doenças crônicas, HIV/aids, câncer, transplantados e imunossuprimidos em geral. Nesses grupos, a prevenção torna-se ainda mais relevante, não apenas para reduzir os sintomas agudos, mas também para evitar complicações cardiovasculares associadas.
Estudos anteriores já haviam mostrado que infecções virais podem precipitar infartos e AVCs. Casos relacionados à gripe, por exemplo, são amplamente documentados, e a vacinação contra influenza já se consolidou como medida preventiva também em cardiologia. Agora, o herpes-zóster passa a ser incluído nesse cenário, reforçando a ideia de que a imunização pode ter impacto além da proteção direta contra doenças infecciosas.

Disponibilidade no Brasil
Atualmente, a vacina contra o herpes-zóster está disponível apenas na rede privada de saúde no Brasil. O esquema vacinal exige duas doses, aplicadas em intervalo de dois a seis meses, com custo médio que varia entre R$ 1,7 mil e R$ 2 mil.
Em abril de 2025, o Ministério da Saúde solicitou à Comissão Nacional de Incorporação de Tecnologias no SUS (Conitec) a análise de custo-efetividade da vacina, o que pode abrir caminho para sua inclusão no calendário oficial do Sistema Único de Saúde. Ainda não há parecer técnico definitivo.
Especialistas apontam que a decisão deverá considerar o impacto da imunização na redução de complicações graves, como AVCs e infartos, que estão entre as principais causas de morte no país. Segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS), as doenças cardiovasculares respondem por 31% de todos os óbitos globais, totalizando cerca de 17,9 milhões por ano, sendo 85% deles provocados por eventos agudos.
Necessidade de mais estudos
Embora os resultados sejam promissores, pesquisadores ressaltam que ainda são necessárias novas análises para confirmar se a redução do risco cardiovascular pode ser atribuída de forma definitiva à vacina contra o herpes-zóster. Isso porque fatores como obesidade, hipertensão e diabetes também estão associados ao desenvolvimento dessas doenças, podendo influenciar os resultados.
A expectativa é de que estudos futuros, com acompanhamento prolongado e metodologias específicas para controlar variáveis de confusão, tragam maior clareza sobre a magnitude do benefício. Ainda assim, especialistas avaliam que as evidências já disponíveis são suficientes para justificar atenção maior à vacina no contexto da prevenção cardiovascular.
Relevância em saúde pública
Caso a eficácia seja comprovada em larga escala, a vacinação contra o herpes-zóster pode se tornar uma estratégia adicional na luta contra doenças do coração e da circulação. Isso teria impacto direto não apenas na redução de mortalidade, mas também nos custos associados a hospitalizações e tratamentos prolongados.
Enquanto isso, a recomendação segue sendo a prevenção do herpes-zóster em si, já que a doença compromete significativamente a qualidade de vida e pode deixar sequelas dolorosas e duradouras. A possibilidade de proteger, ao mesmo tempo, o coração e o sistema circulatório reforça a importância da imunização e deve alimentar o debate sobre sua inclusão no sistema público de saúde brasileiro.
Fonte: Agência Brasil