
Uma nova pílula experimental mostrou resultados promissores na redução do colesterol LDL, conhecido como “colesterol ruim”. Em um estudo clínico de Fase 3, o medicamento enlicitida reduziu em até 60% os níveis dessa gordura no sangue quando utilizado em conjunto com estatinas — os principais fármacos prescritos atualmente para o controle do colesterol alto.
Os dados, apresentados durante as Sessões Científicas da Associação Americana do Coração, indicam que o novo tratamento pode representar uma alternativa eficaz para pacientes que não alcançam resultados satisfatórios apenas com as terapias convencionais. O estudo envolveu quase três mil adultos de 14 países, acompanhados por um período de até um ano.
Resultados promissores e mecanismo de ação
Os participantes que receberam a combinação de estatinas e enlicitida apresentaram uma queda média de 55% a 60% nos níveis de colesterol LDL após 24 semanas, com manutenção do resultado durante as 52 semanas de acompanhamento. Já o grupo que recebeu placebo não demonstrou reduções significativas.
Além disso, o novo medicamento contribuiu para uma redução de aproximadamente 50% nos níveis da proteína ApoB — associada ao transporte de gorduras pelo corpo — e uma queda de 28% na lipoproteína(a), outro marcador importante de risco cardiovascular.
A enlicitida pertence à classe dos inibidores de PCSK9, substâncias que atuam favorecendo a remoção do colesterol LDL da corrente sanguínea. Ao contrário das estatinas, que agem bloqueando uma enzima no fígado para reduzir a produção de colesterol, os inibidores de PCSK9 potencializam a eliminação do excesso já presente no sangue. A combinação das duas abordagens, portanto, tende a gerar resultados mais expressivos.

Um passo adiante no tratamento oral
Atualmente, os inibidores de PCSK9 disponíveis no mercado são administrados por injeção subcutânea, o que pode ser um desafio para a adesão ao tratamento. A enlicitida se destaca justamente por ser o primeiro inibidor de PCSK9 de uso oral a atingir a fase final de testes clínicos. Isso significa que, se aprovada, poderá oferecer uma alternativa mais prática e acessível para milhões de pacientes em todo o mundo.
A farmacêutica responsável pela pesquisa, a MSD, já anunciou a intenção de solicitar aprovação do medicamento à Food and Drug Administration (FDA) no início do próximo ano. Caso o pedido seja aceito, o medicamento poderá representar uma das maiores inovações no tratamento do colesterol desde o surgimento das estatinas, na década de 1980.
Impacto potencial na prevenção cardiovascular
O controle adequado do colesterol é uma das principais medidas para reduzir o risco de doenças cardiovasculares, como infarto e acidente vascular cerebral (AVC). Essas condições continuam sendo as maiores causas de morte no mundo, responsáveis por milhões de óbitos anuais.
Níveis elevados de colesterol LDL provocam o acúmulo de placas nas paredes das artérias, um processo conhecido como aterosclerose. Essa obstrução reduz o fluxo de sangue e pode levar à formação de coágulos, desencadeando eventos graves. Por isso, medicamentos que conseguem reduzir significativamente o LDL têm papel essencial na prevenção e no manejo das doenças cardiovasculares.
Os resultados apresentados no estudo reforçam o potencial da enlicitida para ampliar as opções de tratamento de pacientes que não respondem adequadamente às terapias existentes. Especialistas avaliam que, com a disponibilidade de uma opção oral eficaz, o tratamento poderá se tornar mais acessível e melhor aceito por diferentes perfis de pacientes, especialmente os que apresentam resistência a injeções ou dificuldade de aderência a esquemas complexos.
Segurança e tolerabilidade
Em relação à segurança, o estudo mostrou que a enlicitida teve um perfil de tolerância semelhante ao do placebo. Cerca de 10% dos participantes do grupo que recebeu o medicamento apresentaram eventos adversos graves, número comparável aos 12% observados no grupo placebo.
Os efeitos colaterais relatados foram, em sua maioria, leves ou moderados, incluindo distúrbios gastrointestinais e infecções leves. Nenhum evento adverso específico apresentou frequência significativa o suficiente para levantar preocupações de segurança imediata.
Ainda assim, especialistas reforçam a necessidade de monitoramento contínuo e de novos estudos para avaliar os efeitos de longo prazo do medicamento, especialmente após a sua introdução no mercado.
Perspectivas para o futuro
A chegada de um inibidor de PCSK9 oral representa uma inovação importante em um campo em que as opções terapêuticas têm se mantido estáveis nas últimas décadas. Se aprovado pelos órgãos regulatórios, o enlicitida poderá transformar o tratamento de milhões de pessoas com colesterol alto resistente, reduzindo complicações cardiovasculares e melhorando a qualidade de vida.
Além disso, a possibilidade de um tratamento oral diário deve estimular maior adesão por parte dos pacientes e reduzir os custos operacionais associados à administração de medicamentos injetáveis.
Com base nos resultados apresentados, a comunidade médica aguarda com expectativa a publicação completa dos dados em revistas científicas e a análise das agências regulatórias. Caso os próximos passos confirmem os resultados observados até agora, o novo medicamento poderá marcar um avanço significativo no combate às doenças cardiovasculares — uma das maiores ameaças à saúde pública global.
Fonte: CNN Brasil









